Nesta entrevista concedida por Alberto Araujo, conhecido como “Seco”, o entrevistador André Coelho o questionou sobre sua juventude nas Lan Houses. Alberto contou histórias antigas, falou sobre alguns dos jogos mais marcantes e também de como essa época foi capaz de mudar sua vida de forma positiva.
ANDRÉ: O que era o “corujão” e “mix”?
ALBERTO: Basicamente “corujão” é virar a noite jogando e o “mix” era uma coisa um pouco mais curta. Vamos supor que a Lan House fechasse às 20h, a pessoa ia pra casa e se preparava porque teria um mix 22h e iria até 2h do dia seguinte.
ANDRÉ: Você tem várias histórias envolvendo o Counter-Strike nessa época, poderia contar algumas?
ALBERTO: O Counter-Strike ficou muito famoso na Lan House justamente por incentivo do dono, o “Cabeça” gostava muito dessas coisas de campeonatos, então tinha esse pensamento de querer buscar talentos entre as pessoas que jogavam lá. Inclusive, teve uma situação que um amigo nosso que não tinha um computador em casa tinha inveja dos que tinham e decidiu ter um de qualquer jeito, então pulou o portão da Lan House durante a noite e roubou uma CPU, mas foi descoberto porque voltou depois pra roubar um monitor.
ANDRÉ: Por conta dessa questão dos campeonatos havia uma certa hierarquia de jogadores na Lan House, como isso afetava o ambiente?
ALBERTO: A gente não desdenhava de ninguém, o que acontecia é que nós acabávamos sendo excluídos pelo jogadores comuns por conta de que quando entrávamos nas partidas, vencíamos com tranquilidade e eles se sentiam mal.
Por razões como essa procurávamos nos manter jogando só com os melhores, os mix eram usador pra isso inclusive, para treinar no time da Lan House, mas um cara muito gente boa e inocente chamado Maycon queria muito participar do time e o “Cabeça” dava força pra ele sempre tentar melhorar. No entanto, a relação desses dois era de amor e ódio, já que o Maycon fazia muita besteira no jogo e o “Cabeça” ficava furioso, tanto que uma vez ele tinha a missão de plantar a bomba, porque a bomba é uma das condições de vitória no jogo, mas perdeu ela pelo caminho, então quando chegou a hora de usar e ele não tinha, o “Cabeça” perdeu a paciência e jogou um sapato na cabeça dele. Essa situação virou até um “meme” na Lan House porque o Maycon gritou: “Caraca, Cabeça, esse aqui é o duro, velho!”, quer dizer, ele já até sabia qual sapato era de tantas sapatadas que tinha levado.
ANDRÉ: Como você enxerga essas coisas que começaram com um joguinho, mas que acabaram fazendo parte de outras áreas da sua vida?
ALBERTO: Eu acho que os benefícios maiores de toda essa trajetória foram aprender um novo idioma e criar a curiosidade de saber como eram feitos os jogos, pois justamente por isso acabei estudando programação e acabei me tornando programador. Eu acho que se não tivesse passado por tudo isso, teria acabado só “seguindo o fluxo” e trabalhado com operário em alguma empresa e não numa área técnica.